A importância das ações de marketing para o setor literário
Marketing e literatura na mesma frase, inicialmente, pode causar estranhamento. Mas a verdade é que com o crescimento no número de blogs literários, o surgimento dos canais no Youtube dedicados a autores e sagas e a proliferação de perfis numerosos no Instagram exibindo as capas dos mais lidos, pensar em unir as duas coisas faz todo o sentido. Inclusive, há quem já se dedique a estudar um ramo específico do Marketing, o Marketing Literário, e ainda esmiúce a questão com outra subdivisão: a do Marketing Digital Literário.
E os autores no meio disso tudo? E os puristas que acreditam que a literatura, enquanto expressão artística e intelectual suprema não deve apelar para as ferramentas de Marketing e suas estratégias que visam a conquista de novos mercados e de lucro? Será que os livros devem ser tratados como mercadoria? Mas eles têm uma aura quase mística! Escritores são como deuses!
Acontece que uma coisa não exclui a outra e, tanto editoras quanto autores, já perceberam que é possível respeitar a 'sacralidade' da literatura e, ao mesmo tempo, buscar formas de sobreviver no mercado. Até porque, por mais genial que seja um autor, ele paga contas e para viver, precisa vender. O que vai ditar a permanência ou não de um escritor, independente das estratégias maravilhosas de divulgação e vendas, é a qualidade da obra, lógico. Porque se não fosse assim, não teríamos os grandes clássicos e autores imortais desde os tempos de A Odisseia.
No século XXI das redes sociais, hiperconectividade, digital influencers e produtores de conteúdo transpondo os saraus e clubes de leitura dos salões para o ambiente dinâmico da web e da rede, fazendo o caminho de volta às palestras, noites de autógrafos e grupos de discussão que se reúnem nos cafés-teatro, é até ingenuidade não apostar em boas premissas de marketing e comunicação para divulgar uma obra, principalmente se o autor for iniciante. Até porque, boa parte dos novos autores são crias da internet.
Popularização de autores
Autores como Rodrigo Barros defendem que Marketing Literário ou Marketing Digital não existem. O que existe é apenas o Marketing puro e simples direcionado para livros e autores, com boas estratégias off line aplicadas nas ferramentas online, respeitando-se, claro, as especificidades de cada ambiente.
Mas, independente do nome que se dê aos bois, dizer que escritores escrevem para ser lidos é uma obviedade necessária. E ser lido, nesses tempos de excesso de informação e curadoria, significa ser bem divulgado. Além da realização do ego do autor, ou da sua missão de vida, existe também a doação que ele faz do seu talento para os leitores. A literatura é uma arte que desperta consciências, que alimenta o espírito. Personagens e histórias nos fazem companhia na jornada pela vida.
Um autor que interage com seu público, que está conectado ao movimento das redes sociais, acaba levando vantagem sobre aqueles que se escondem. E não são apenas os best sellers como J.K Rowling. Vale lembrar que nem todo best seller é 'propaganda enganosa'. A própria criadora de Harry Potter é um exemplo de escritora com forte apelo nas redes sociais e legiões de fãs pelo mundo que se firmou no meio literário porque sua criação tem qualidade. Neil Gaiman é outro exemplo contemporâneo de autor pop, mas que também é genial.
Escritores acessíveis e engajados
A autora de A casa das sete mulheres, Letícia Wierzchowski, é exemplo brasileiro de autora que conquistou novos fãs e leitores ao se engajar na cultura digital. Em 2013, entre a estratégias de lançamento de seu romance Sal, a escritora postou vídeos e textos inéditos no Facebook, o que contribuiu tanto para o êxito nas vendas do novo livro, quanto no aumento das buscas por obras anteriores dela. Ainda falando dos autores nacionais, quem não conhece as frases inspiradas do poeta Fabrício Carpinejar no Twitter? Sem falar em Paula Pimenta, que soma milhares de seguidores.
Ações bem pensadas de comunicação e marketing, podem revelar autores independentes, que sem o aporte de uma editora de renome, teriam mais dificuldade para tornar sua obra conhecida. Também pode contribuir para perpetuar as obras clássicas, apresentando-as para novos públicos por meio dos muitos recursos que a internet oferece. Além disso, uma outra missão nobre dessas iniciativas é a popularização do hábito da leitura, principalmente quando as ações são direcionadas para blogueiros, youtubers e instagramers que investem na divulgação literária e contagiam seus seguidores com o prazer da leitura.
Ações eficientes
As editoras, nos últimos anos, vêm investindo no conceito de parceria, elegendo, via análises de perfil, determinados blogs ou outros canais (Instagram, Youtube, etc) como seus divulgadores chave em um determinado período, geralmente, um ano. A cada novo ciclo, um processo de seleção é aberto, renovando os parceiros. Além disso, autores e editoras investem mais em fanpages, hotsites, clipes, vídeos, divulgação de trechos das obras e conteúdos variados para apresentar um novo lançamento. As editoras, quase todas, já estão no Instagram e interagem com os seguidores. Existem redes sociais específicas de leitores, como a Skoob...
A dica de ouro, ao adotar ferramentas de marketing para divulgar literatura é uma boa segmentação, como aliás em toda estratégia de comunicação que se preza. Existem, por exemplo, diversos blogs de literatura na internet, e boa parte deles dedica-se a alguns gêneros e não a outros, porque como blogs ainda trazem muito da essência original de 'diários pessoais', raramente um blogueiro vai dar espaço para aquilo que não lê ou não gosta. E é em busca desse olhar treinado de quem é leitor compulsivo que o público vem. E é nesse público que a editora está de olho. Logo, mandar chick lit para quem só lê terror gótico é queima de cartucho.
Conhecer as especificidades de cada rede social, bem como o perfil dos digital influencers, dos blogs ativos, dos canais mais atualizados e cujo trabalho é de fato sério, com postagens originais e sem plágio, é o ponto de partida de ações de marketing eficientes para o mercado literário.
